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Jeferson Tenório

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Sobre a importância de devolver à Cultura o status de Ministério

Jeferson Tenório

Colunista do UOL

12/12/2022 04h00

Quando Michel Temer chegou à presidência, após um golpe parlamentar, em 2016, uma de suas primeiras ações foi a de fechar o Ministério da Cultura. Entretanto, a ação foi revertida graças ao movimento "OcupaMinc". No entanto, com a eleição de Bolsonaro o ministério foi extinto e virou uma secretaria agregada ao Ministério da Cidadania, até que, por fim, acabou numa secretaria ligada ao Ministério do Turismo. Lembram?

Depois disso, tivemos um show de horrores: a pasta foi ocupada por Roberto Alvim, que atacou a classe artística e foi exonerado após fazer um discurso com referências nazistas, num simulacro nefasto e fascista. Depois foi a vez da atriz Regina Duarte, que fez uma passagem relâmpago pela secretaria, sem sequer conseguir montar uma equipe de trabalho, até chegarmos ao ator Mario Frias, que já vinha atacando o setor cultural alinhando-se a uma pauta ideológica ultradireitista.

Todos que assumiram a secretaria pretendiam pôr em pauta um único projeto: destruir a arte. Pois sabem que a arte não se submete a regimes totalitários. A arte existe para incomodar. Para desestabilizar o mundo. Quem procura conforto na arte não está à procura da arte em si, mas em busca de uma confirmação do próprio mundo com suas injustiças e violências. A arte incomoda porque traz à luz os tabus que a sociedade esconde: a nudez, a morte, a loucura, o desejo, e que recalcamos para continuarmos numa vida vazia e sem sobressaltos existenciais. A arte incomoda porque nos liberta. E a liberdade é tudo que regimes autoritários não querem, como foi o caso de Temer e Bolsonaro.

Um país se apequena toda vez que se reduz capital cultural. No Governo Bolsonaro vimos um desmonte sistemático da pasta da Cultura, tentando reduzi-la a uma simples secretaria capitaneada por fascistas truculentos e armamentistas. Portanto, trazer de volta a Cultura para o status de ministério devolve ao país um espaço crucial para construção e reconstrução de nossa identidade. E nos dá um pouco de esperança por mais recursos econômicos para um setor tão atacado e combalido.

Junto-me à jornalista Flávia Oliveira e à escritora Conceição Evaristo, que celebraram o nome da cantora, atriz e gestora Margareth Menezes para o Ministério da Cultura. Margareth é um nome importante no cenário cultural brasileiro. Sabemos que o trabalho é imenso e desafiador, mas não faz sentido criticar sua indicação sem nem antes ela ter começado. Aliás, faz sentindo para uma sociedade ancorada na misoginia e no racismo estrutural.

Ninguém sabe como será a sua gestão, assim como também não sabemos como será a gestão de tantos outros homens brancos indicados para os ministérios. Por isso, precisamos celebrar a importância de uma mulher negra num espaço de poder e de decisão que pode afetar muitas vidas. É claro que a imagem de Margareth incomoda, porque condiz com o imaginário racista de sempre associar pessoas negras a condições subalternas, e não como ministra da Cultura.

Desejo a Margareth um bom trabalho e todo o apoio! Sim, o ministério da cultura está "on" novamente. Viva a cultura brasileira!