Fundador do BBA e ex-presidente do BC, Fernão Bracher morre ao 83 anos

Um dos formuladores do Plano Cruzado, banqueiro era pai do atual presidente do Itaú Unibanco, Candido Bracher

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São Paulo

 O banqueiro Fernão Bracher, 83, ex-presidente do Banco Central e fundador do banco BBA, morreu nesta segunda (11), no hospital Albert Einstein, em São Paulo, por complicações após uma queda. 

Paulistano, Bracher era pai do atual presidente do Itaú Unibanco, Candido Bracher. Além dele, deixa outros quatro filhos, Beatriz, Eduardo, Elisa e Carlos, 15 netos e 3 bisnetos.

Formado em direito pela faculdade do largo de São Francisco (USP), ele se casou com a historiadora e, mais tarde, psicanalista Sonia Sawaya, em 1957, ano em que se mudaram para a Alemanha.

Bracher frequentou cursos de especialização nas universidades de Heidelberg e de Friburgo. De volta ao Brasil, seguiu carreira no setor bancário privado até se tornar vice-presidente-executivo do Bradesco.

De 1985 a 1987, presidiu o Banco Central durante o governo de José Sarney.

Na autoridade monetária, comandou a concepção do primeiro plano de controle da inflação, o Cruzado, lançado em 1986. O país só conseguiria estabilizar a economia em 1994, com o Plano Real.

Em entrevista ao CPDOC/FGV (Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da Fundação Getulio Vargas), Bracher detalhou os princípios do Cruzado, de combate à inércia inflacionária.

"O raciocínio era o seguinte: por que os preços estão aumentando? Devido à taxa de juros? À taxa de câmbio? Não, aumentavam hoje porque haviam aumentado ontem, e assim por diante. Era necessário interromper esse ciclo. Decidiu-se, então, pela adoção do congelamento de preços e da tablita. O congelamento estancava os preços no nível em que estivessem, enquanto a tablita corrigia os valores futuros", disse em entrevista concedida em 2016.

Para ele, o sistema funcionaria se não houvesse uma bolha de consumo, o que ocorreu.

Fernão Bracher em 2014, durante evento de 90 anos do Itaú
Fernão Bracher em 2014, durante evento de 90 anos do Itaú - Bruno Poletti/Folhapress

"Todos correram para consumir, em parte, por causa do gatilho, pela falta de disciplina orçamentária, mas, principalmente, pela desconfiança de que o Plano [Cruzado] não fosse perdurar. Em última instância, foi essa desconfiança que causou a sua destruição."

Após o fracasso, pretendia autorização para elevar as taxas de juros com o objetivo de controlar a inflação. Não foi atendido e pediu demissão em janeiro de 1987.

Ainda na entrevista, Bracher afirmou que a principal contribuição política do Cruzado foi apontar o que não deveríamos fazer. "Foi um grande aprendizado para o Real."

Após deixar o BC, Bracher fundou em 1988, com Antônio Beltran Martinez, o banco de investimentos BBA.

A operação foi vendida ao Itaú em 2002, por R$ 3,3 bilhões (à época). Bracher seguiu à frente da operação do banco de atacado até 2005, quando o filho Candido passou a liderar a operação, já sob o guarda-chuva do Itaú.

A carreira de Fernão Bracher no setor financeiro começou cedo. Após passagem pelo escritório de advocacia Pinheiro Neto, o banqueiro foi trabalhar no Banco da Bahia. Em 1973, a instituição financeira foi comprada pelo Bradesco, e Bracher foi convidado por Amador Aguiar a permanecer na diretoria da instituição.

Depois disso, teve sua primeira passagem pelo BC, que durou cinco anos. Foi responsável diretoria da Área Externa e, de acordo com o banco, tentou liberalizar regras e implementar ajuste da taxa de câmbio, em um esforço de acabar com o mercado negro.

Em nota, o atual presidente do BC, Ilan Goldfajn, lamentou a morte do ex-presidente da instituição. "Fernão Bracher prestou inestimáveis serviços ao Brasil, tanto no Banco Central quanto nas suas várias atividades no setor privado", disse.

O Bradesco também divulgou pesar. "O Brasil perde um homem de negócios à frente do seu tempo."

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