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Justiça não ajuda e deu nisso, diz pai de menino esquartejado pela mãe

Rhuan Maicon da Silva Castro, 9, foi assassinado pela mãe no Distrito Federal - Reprodução/Facebook
Rhuan Maicon da Silva Castro, 9, foi assassinado pela mãe no Distrito Federal Imagem: Reprodução/Facebook

Jéssica Nascimento

Colaboração para o UOL, em Brasília

03/06/2019 17h43Atualizada em 03/06/2019 18h19

O pai do garoto Rhuan, 9, que foi morto pela mãe e a companheira dela, procurava o filho havia cinco anos, tinha obtido a guarda dele na Justiça e buscou a polícia e o Conselho Tutelar para ajudá-lo. A procura terminou no sábado (1), quando Rosana Auri da Silva Candido foi presa suspeita de matar Rhuan, enquanto ele dormia. Após o crime, a mãe disse à polícia que esquartejou e tentou queimar o corpo em uma churrasqueira um dia antes.

"Tentamos salvar o Rhuan. Postamos nas redes sociais, procuramos polícia e Conselho Tutelar. Ninguém nos ajudou", desabafa Maycon Douglas Lima de Castro, pai de Rhuan, em entrevista ao UOL.

Ele disse que manteve um relacionamento com Rosana por dois anos. Depois que Rhuan nasceu, os dois se separaram. O motivo do rompimento, segundo Maycon, foi a traição dela ao se relacionar com Kacyla Priscyla Santiago Damasceno Pessoa, 28, presa suspeita de ajudar no crime cometido na sexta-feira (31).

Após se separar do homem, a mãe do menino fugiu do Acre e não entrou mais em contato com os familiares. Com a namorada, morou em Sergipe, Goiás e no Distrito Federal. Maycon acionou a Justiça e obteve a guarda provisória de Rhuan em novembro de 2015, em decisão do juiz Romário Divino Faria, da 2ª Vara da Infância e Juventude de Rio Branco.

Apesar da decisão, o pai jamais conseguiu localizar o filho. A família paterna divulgou nas redes sociais a foto do garoto e pedia informações sobre o paradeiro dele, mas nunca obteve sucesso.

Meu pai que me contou a notícia (do assassinato de Rhuan). Quando vi as fotos das duas não acreditei, a ficha não caiu. Quando meu filho desapareceu, todos ficamos desesperados. Éramos todos apegados a ele. Nunca desistimos de nada. Mas a Justiça do Brasil não ajuda e o resultado foi esse
Maycon Douglas Lima de Castro, pai de Rhuan

Antes do crime, o pai chegou a receber informações de que o filho estaria no Distrito Federal. Desempregado, ele juntava dinheiro para ir atrás da criança. O menino será enterrado na quarta-feira (5) no Acre. O Ministério Público do estado será responsável por arcar com os gastos do traslado do corpo.

Conselho diz que mãe queria que Rhuan virasse menina

Mãe (à dir.) é suspeita de matar Rhuan; ela disse à polícia que castrou o filho há um ano - Divulgação/Polícia Civil - Divulgação/Polícia Civil
Mãe (à dir.) é suspeita de matar Rhuan; ela teria castrado o filho há um ano
Imagem: Divulgação/Polícia Civil
O Conselho Tutelar do Distrito Federal disse ao UOL que não sabia do caso e que nunca recebeu uma denúncia. Segundo a conselheira Claudia Regina Carvalho, Rhuan tinha uma irmã de criação. A menina tem oito anos e é filha de Kacyla. Ela estaria dormindo no momento do crime mas, por meio de desenhos, relatou que viu partes do corpo do Rhuan dentro de malas.

"Ela está bem, mais tranquila. Disse que lembra de ver o irmão morto e da mãe dentro da viatura", explica Cláudia. De acordo com a conselheira, Rosana e Kacyla tentavam transformar Rhuan em uma menina. Por este motivo, elas cortaram o pênis dele há um ano em Goiânia e faziam alisamento todos os dia no cabelo da criança, que eram longos.

Foi uma espécie de cirurgia de mudança de sexo. Após retiraram o pênis, elas costuraram a região mutilada e improvisaram uma versão de um órgão genital feminino, fazendo um corte na virilha
Claudia Regina Carvalho, conselheira tutelar

A postura das mães teria, segundo a conselheira, influenciado também a filha de Kacyla. A menina teria uma aversão à figura masculina, já que as mulheres a convenceram de que todos os homens eram agressores. O pai da garota, Rodrigo Oliveira, chegou ontem ao Distrito Federal para buscá-la. Mas a menina se negou a encontrá-lo. Depois de muita conversa, aceitou ver o pai, que também é do Acre.

Maycon e Rhuan - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Maycon teve última notícia do filho havia cinco anos
Imagem: Arquivo pessoal
Rodrigo diz que estava combinando com o pai de Rhuan de buscar as duas crianças. Ele também não via a menina há quase cinco anos. "Ela (a filha de Kacyla) contou que não gostava do irmão de criação por ser homem", explica Cláudia, que relembra o encontro da menina com o pai. "A criança não olhava diretamente para o rosto dele, só segurava a minha mão. Ela ainda ficará um tempo no abrigo para se readaptar à família que não via há muito tempo. Tudo vai dar certo. Ela também receberá assistência psicológica", diz.

Já o delegado responsável pelo caso, Guilherme Sousa Melo, afirma que pretende viajar nesta semana ao Acre para descobrir como era a vida das crianças antes de passarem a viver clandestinamente.

Em audiência realizada hoje, a juíza Simone Garcia Pena determinou que as mulheres fiquem presas por tempo indeterminado e que sejam colocadas em cela separada de outras detentas.

O caso

O crime ocorreu no último sábado (1), em Samambaia, região administrativa que fica a 24 km do centro de Brasília. De acordo com a Polícia Civi, Rhuan foi morto enquanto dormia por golpes de faca. Antes de esquartejar o corpo, a mãe e a companheira tentaram queimá-lo na churrasqueira, mas desistiram por conta do cheiro. Depois, dividiram partes do garoto em malas e mochilas.

Segundo o delegado, a mãe tentou esconder as malas dentro de um bueiro. Porém, foi flagrada por jovens que jogavam bola, por volta das 1h30. Eles suspeitaram da atitude e, ao abrirem a mala, encontraram partes da vítima.

A ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, visitou o Conselho Tutelar de Samambaia e afirmou estar "chocada". "Vocês conseguem imaginar quanta dor este menino vinha sofrendo?", questionou a ministra em vídeo postado no Twitter.